A nova versão do "Manual do Deputado Petista", destinada aos 88 parlamentares que assumirão o mandato na Câmara em fevereiro, recomenda aos eleitos tomarem cuidado com a grande imprensa, que, segundo a cartilha petista, teria má vontade com o PT e com o governo Lula desde 2003. Mas o livreto, de 51 páginas, faz um alerta ao deputado do partido e recomenda que não polemize com os meios de comunicação: "evite a suposição da existência de conspirações da imprensa contra o Congresso. Não seja corporativista".
Esta é a sexta edição do manual, atualizado a cada nova legislatura. O líder do PT, deputado Fernando Ferro (PE), apresenta o documento como um mapa dos caminhos do Congresso e classifica as dicas como orientações úteis para a bancada. É o chamado "modo petista de legislar".
Em relação à imprensa, o manual do PT afirma que muitas vezes a pauta do repórter já vem "fechada", que é elaborada pela direção do jornal, "o pessoal da retaguarda", caso de editores, coordenadores e diretores de redação. "São quem moldam a forma final da reportagem". Classificam a reportagem como "tese da redação". E sugerem: "não participe ou tente derrubar (a pauta). É preciso ter paciência e resistência". Partido diz que população nota as manipulações E concluem que "não é incomum a reportagem discordar da redação".
Diz que há uma diferença clara entre o jornalista, apresentado como trabalhador assalariado, e a empresa para o qual trabalha. Para o PT, não existe informação neutra ou imparcial. "Uma regra é falar pouco, e entrevista, de preferência, gravada. Em caso de off (sem identificação da fonte), passe-o apenas para um repórter. Jamais para dois".
O manual recomenda ao deputado portador de alguma notícia que circule pelo Salão Verde, local próximo ao plenário, onde há intensa movimentação de jornalistas. Mas que tome cuidado com o dead line, que é o horário de fechamento dos jornais: "Se tem algo a divulgar, que o faça até as 16h, no máximo até as 17h".
Para o partido, a população está vacinada contra manipulações. A saída é a internet e as redes sociais, que, segundo o livreto, esvaziaram o poder de manipulação da grande imprensa. Os blogs alternativos é um caminho mais direto, "sem o filtro ideológico". Na TV, diz o manual, é mais difícil colocar o parlamentar em evidência.
O tempo disponível é curto e as emissoras entrevistam os mais conhecidos ou seus parlamentares preferidos, que "vendem" mais a notícia. Mas se for dar entrevista para televisões, recomenda-se, antes, fazer um "media training", uma espécie de treino com o assessor de imprensa.
A imprensa regional - conjunto de jornais, rádios e TVs dos estados de origem dos deputados - é citada como fundamental para o contato com as bases desses políticos, seus eleitores. A sugestão é fazer visitas de cortesia às redações. "Mas são veículos que pertencem a grupos políticos locais, muitos deles hostis ao PT".
Tratar bem jornalistas dos pequenos jornais também é outra dica. O PT diz que a profissão é marcada por alta rotatividade. "Vale lembrar que o jornalista que hoje trabalha no pequeno jornal ou na rádio do interior pode, amanhã, ser contratado por um veículo maior". Se enviar release (material de divulgação do mandato), sugere a cartilha, não esqueça de colocar telefone de contato e estar sempre localizável.
Fonte: O Globo
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