11 de fevereiro de 2013

Nunca fui ditador, mas sempre cobrei resultados

O senador Ivo Cassol durante entrevista no Diário

Numa entrevista exclusiva ao Diário, o ex-prefeito, ex-governador e atual senador Ivo Cassol (PP) falou do seu projeto de voltar ao Palácio Presidente Vargas em 2014, mesmo enfrentando dificuldades na Justiça, sendo considerado inelegível. Ele aposta, recorrendo nos processos, que reverte à situação até as eleições do próximo ano.
Casado com Ivone Mezzomo Cassol, o catarinense é pai de três filhos e tem três netos. Único governador reeleito da história de Rondônia, discorreu sobre seus projetos e suas prioridades se voltar ao governo. “Sou pré-candidato. O povo era feliz e não sabia. Falavam tanto de mim, que eu era ditador, isto aquilo, mas eu cobrava resultados, fazia a coisa funcionar”, arremata.
Entre os fatos pitorescos da sua trajetória em Rondônia, Ivo lembrou que foi caminhoneiro, nos anos 80, transportando banana para Manaus pela BR-319, que era asfaltada. O chapéu, símbolo de campanhas, Casssol já usa com mais parcimônia em lugares fechados e em cerimônias publicas “porque usar muito dá queda de cabelos”.
Ivo – já adotando um tom oposicionista – traçou quadro sombrio para o Estado nos próximos dois anos, enfatizando o endividamento do atual governo e a falta de projetos para alavancar recursos em Brasília. Acredita que a agropecuária é a vocação natural do Estado e previu o avanço da soja até Porto Velho “como novo motor de desenvolvimento”. Confiram.
Diário da Amazônia – Como foi sua vinda para Rondônia?
Ivo Cassol – Cheguei a Rondônia acompanhado dos meus pais, na década de 60. Compramos uma propriedade rural no município de Cacoal e iniciamos o trabalho de transporte de madeira. Ao fixar residência na região de Rolim de Moura, começamos a nose envolver com a política.

Diário – É verdade que o Sr. já foi caminhoneiro, transportando banana pela BR-319 para Manaus?

Cassol – É verdade. Naquela época a BR-319 estava asfaltada e funcionava. Fui caminhoneiro e comerciante, já que comprava banana aqui e vendia em Manaus. O lucro era bom.

Diário – Na década de 80 os políticos da família eram Reditário Cassol e seu irmão César Cassol. Como Ivo despontou para a política?

Cassol – Sempre ajudamos na coordenação das campanhas em Rolim e na zona da Mata. Como constatamos que muitas promessas de prefeitos e governadores não eram cumpridas, resolvemos entrar na política, como candidato a prefeito em Rolim.

Diário – Em sua biografia é destacada uma música de Ricardo Braga, aquela de “uma estrela vai brilhar…”

Cassol – Na época eu era caminhoneiro. Sempre via as pessoas e outros Estados em franco desenvolvimento. Procurei me espelhar em atos e práticas que apresentaram bom resultado. Sempre “pegava” modelo deles e, por isso, me inspirei em Roberto Carlos e naquela música “uma estrela vai brilhar”. É a música da minha vida.

Diário – Sobre esta estrela brilhando tem algumas passagens incríveis. Ganhou um debate ao governo contra Amir Lando, onde se estabelecia uma disparidade cultural imensa. Comente esta passagem.

Cassol – Sempre falei com o coração, não só no debate, mas nas visitas, sempre fui verdadeiro. O Amir Lando se projetou no cenário nacional em função do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, mas só ficou nisso. O povo queria uma liderança local e conseguimos mostrar à população que isso era possível.

Diário – O Sr. emergiu para o cenário estadual depois de uma bem sucedida administração em Rolim de Moura. O que destacar desta etapa e depois a reeleição…

Cassol – A população, de um modo geral, não quer muito. Quer o básico: saúde, educação e cidade limpa. A nossa administração foi de credibilidade. O município se destacou entre as 22 melhores saúde do Brasil e essa conquista me projetou politicamente.

Diário – Porque em Rolim de Moura, uma cidade de porte pequeno, despontaram tantas lideranças políticas inclusive governadores e senadores? Existe alguma poção mágica para os políticos da zona da Mata, como ocorre na aldeia do Asterix?

Cassol – Rolim de Moura ocupou espaço em nível de Estado. Muitos tiveram a oportunidade na região e não aproveitaram. Cito o ex-prefeito de Cacoal, Divino Cardoso, que se destacou, mas não aproveitou o seu momento. Não é o tamanho do município e a localização que influenciam na projeção política. Tem que aproveitar a oportunidade. O bola da vez tem que aproveitar a oportunidade. A política não pode cometer erro. Temos exemplos de pessoas que saíram desses pequenos municípios, mas que não tiveram bom desempenho nas urnas. A população quando vota em alguém quer que o prefeito ou legislador assuma um compromisso de quatro anos. Quando fui eleito prefeito, cumpri o meu mandato.

Diário – É verdade que na convenção de 2002 alguns tucanos queriam apunhalar sua candidatura ao governo. Muitos já estavam até usando camisetas do Natanael?

Cassol – Eu precisava de um partido que tinha tempo de TV. O PSDB tinha tempo e seus compromissos. Cada candidato a deputado pensava em sua sobrevivência. Mas ao mesmo tempo coloquei na cabeça dos colegas que poderíamos fazer muito mais. Na época o partido tinha muito cacique, mas faltava eleitor. Conversei com as pessoas e disse que o projeto do governador daria certo. E deu. Convencemos dentro de um projeto que todos compraram a ideia e época elegemos dois deputados federais e um governador.

Diário – Até hoje se comenta nos bastidores que foi graças a um discurso tipo “que se alguém me trair, eu vou quebrar os dentes” é que o Sr. reverteu a situação?

Cassol – É folclore, não arrebentei a dentadura de ninguém, Consegui mudar a situação com muita conversa.

Diário – O que o Sr. destaca em quase oito anos de administração no governo estadual?

Cassol – A reintegração dos servidores públicos do Estado que foram demitidos. Conseguimos devolver a identidade à categoria com essa reintegração. Ao mesmo tempo, a população estava em descrédito. Fizemos uma revolução. Faltava combustível para a polícia. O DER não tinha equipamentos. Quando fui candidato disse que iria fazer uma faxina. Os empresários começaram a investir, o Estado começou a gerar renda. E com isso surgiram novas oportunidades em Rondônia. Conseguimos fazer uma estruturação na malha viária e a economia cresceu. Com isso foi possível, aumentar a receita de R$ 1 bilhão para R$ 6 bilhões.

Diário – Na campanha de 2010, o senhor era o favorito ao Senado e ao final perdeu terreno para seu adversário regional, Valdir Raupp. Como avalia esta situação?

Cassol – Não foi decepção. Meus 458 mil votos foram o primeiro voto. Teve também o voto anti PT. O mesmo que aconteceu com a ex-senadora Fátima Cleide, aconteceu com o senador Valdir Raupp, em 2010. Fizemos uma comparação. No primeiro voto, eu fiz 65% dos votos. Meu grupo também trabalhou para Valdir Raupp, foi quando houve um efeito manada.
Diário – Depois de dois anos no Senado, qual é o balanço que o Sr. faz da sua atuação parlamentar?
Cassol – O Senado é um lugar extraordinário. Lá é discutido o projeto do Brasil. Conseguimos nos últimos dois anos fazer um trabalho com meus pares. Me coloquei no meu lugar. Quem já passou pelo governo consegue ser um bom legislador. Tenho o projeto de decreto legislativo que propõe plebiscito em 2014 para tratar sobre a menor idade. Outra proposta acaba com a máfia dos medicamentos. O Estado pode comprar direto do laboratório. Com isso, acaba com a venda descontrolada de medicamentos, que é um custo muito alto.

Diário – Fale dos processos em andamento na Justiça e suas possibilidades de registrar candidatura ao governo em 2014…

Cassol – Todos os processos contra minha pessoa eu estou recorrendo na Justiça. Sou vítima do sistema e de perseguição. O primeiro processo é referente a uma reunião que aconteceu em Porto Velho no clube Kabanas com representantes da classe estudantil. O outro é sobre um culto que aconteceu em Rolim de Moura, onde entrei calado e saí mudo. Não usei a palavra e fui multado. No processo que trata sobre a compra de voto eu fui absolvido. Quem comprou foto foi cassado [Expedito Júnior]. Sobre o último processo, uma pessoa se sentiu prejudicada e procurou a delegacia e fez ocorrência policial. Não ouviram sequer o delegado e, por outro lado, eu não estava no Brasil. Quem era o gestor da época era o João Cahulla, na época vice-governador. Quem é ordenador de despesa é o secretário. O MPF não indiciou o secretário. Simplesmente, ele (MPF), entrou com processo de improbidade contra o Ivo Cassol. Se tivesse imparcialidade, deveria ter ouvido o secretário ou o ordenador de despesa. Estou pagando pelo meu cargo e minha posição. Pode pegar nos autos, o secretário não está no processo.

Diário – Você se prepara para ser candidato ao governo nas eleições de 2014?

Cassol – O candidato a candidato tem que ser de uma cidade dentro da base eleitoral. Fiz um trabalho nos quatro cantos de Rondônia. Hoje a população pode fazer uma comparação da época do Teixeirão. Muitos vaiaram o Teixeirão, em pouco tempo a população sabia que era feliz e não sabia. A história se repete. Com a vitória do candidato do PMDB, e a derrota do nosso, nesse período a população pode fazer uma reflexão. A tradição do PMDB é uma administração. Se fizer um comparativo, mesmo com os críticos que esperavam uma nova Rondônia, acabou se decepcionando. Sempre fui verdadeiro, honesto. Isso me deu credibilidade. Quando você tá na frente, você tem que ter a colocação das exigências para ter sucesso. Cada secretário tinha autonomia. Quem cuidava do governo era eu. Tinha gestão e resultado. No começo do novo governo disseram que nós deixamos débitos e isso não é verdade. Hoje sim tem débito e as pessoas não recebem.

Diário – Voltando ao governo quais seriam suas prioridades?

Cassol – A prioridade é administrar bem, com competência. Não temos uma crise da usinas, a crise hoje é de gestão em Rondônia. Se não pagar aos fornecedores, ocorre o efeito cascata. O comércio é prejudicado, o dinheiro não gira. Muitos estão quebrando. A crise das usinas ainda vem no final do ano. Eu queria que fosse o contrário. Sempre fui voto contrário. O empréstimo, eu fui o único a combater. Só se fala em fazer coisa com dinheiro emprestado. Hoje os empréstimos que o Estado já fez passam de R$ 1 bilhão e 200 milhões.

Diário – Na sua opinião quais são as principais causas, as principais bandeiras rondonienses para os próximos anos?

Cassol – Tem que regatar a credibilidade do governo. Precisamos investir no agronegócio e mecanização agrícola. O dinheiro pode girar mais tempo em um ano. Precisa continuar tendo estrada, o setor público precisa movimentar a economia. Se o setor público atrapalhar, prejudica. Rondônia precisa voltar a programas para incentivar a agricultura familiar. Aproveitar as terras ao redor de Ariquemes, Vilhena, mas hoje só está por conta própria. Estamos sem estradas, a malha está danificada.

Diário – O senhor se considera um ditador?

Cassol – Nunca fui um ditador, fui um administrador diligente, sempre deleguei poderes e cobrei resultados. Como empresário tenho visão, distribuo trabalho e cobro ação.

Diário – Suas considerações?

Cassol – Quero agradecer a Deus. Não abro mão de continuar nos cultos e igrejas, que a população continua orando. A Bíblia diz para orar para as autoridades e que possamos ter dias melhores de novo.
(Da Redação)

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