9 de setembro de 2014
Ibama faz estudo inédito em Rondônia sobre o uso das queimadas
O desmatamento e as queimadas na floresta amazônica podem ter consequências catastróficas também para as pessoas que vivem a milhares de quilômetros de distância do Brasil. Este é um dos problemas norteadores de uma pesquisa inédita que está sendo realizada no estado de Rondônia. Trata-se de “uma experiência que vem sendo desenvolvida há dois anos, com o objetivo de levantar dados de emissão de efluentes químicos e efluentes sólidos de uma queima florestal. Além de avaliar o impacto da influência do fogo na borda da floresta, nós vamos avaliar também a velocidade do fogo, do vento, a altura e a intensidade das chamas. Na Amazônia, não existe um trabalho científico medindo todos os dados, inclusive medindo a quantidade de gases que são emitidos durante uma queimada. É um trabalho, de fato, pioneiro no Estado e vai nos dá amplas possibilidades de diagnósticos científicos”, declara Roberto Fernandes Abreu – superintendente substituto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama-RO).
A pesquisa – que atingiu a fase máxima de observação e coleta de dados, na semana passada – foi desenvolvida pelo Ibama-RO, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) e Universidade Estadual Paulista (Unesp). De acordo com Roberto Abreu, que também é coordenador estadual do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo), para a realização desta experiência “foi selecionada uma área de quatro hectares, numa propriedade particular de Jequitibá – no município de Candeias do Jamari – sendo que 2,5 hectares foram desmatados. Construímos os aceiros como linhas de segurança e o PrevFogo está trabalhando diretamente nessa parceria para efetuar a queima com todos os cuidados necessários. Todo o processo foi acompanhado e devidamente legalizado pelos órgão estaduais competentes”, explica.
EXPERIÊNCIA IN LOCO
O professor João Andrade de Carvalho – um dos cientistas que compõe o grupo de pesquisadores da Unesp – esclarece como foi feita a amostragem da floresta. “Há muitas árvores no chão que foram devidamente catalogadas para o experimento. Foi selecionado o que a gente chama de material grande – que são os troncos acima de 10 centímetros; esses troncos queimam de uma maneira diferente do material mais fino. Então, nós fizemos uma amostragem do material maior (árvores de médio e grande porte). O que fizemos aqui? Selecionamos 10% dos troncos; são cerca de 585 árvores de porte grande, médio e pequeno; desse total catalogamos cerca de 60 troncos que vão ser queimados e estudados. Como funciona? Nos troncos catalogados são colados arames ao redor deles, para medir a circunferência; a ponta desse arame vai para dentro dos troncos, medindo também a profundidade; depois do incêndio vamos verificar o consumo de cada material maior, por meio desses arames. Quando as chamas apagarem ainda vai restar muita madeira. Em primeiro lugar, teremos uma estimativa do consumo de cada árvore e aí nós conseguimos medir toda a biomassa nessa área de terra, que foi separada para a experiência”, declara.
Para Carvalho é fundamental considerar que o ser humano precisa explorar os recursos da floresta para sobreviver. Por isso “é importante ampliar o conhecimento de como usar adequadamente esses recursos. A gente espera que os estudos contribuam para a preservação da natureza, mas que também auxiliem as pessoas a se apropriarem do que ela pode propiciar, sem o risco de extinção”, disse.
Além dessas análises feitas a partir de uma simulação de queimada, ainda é possível quantificar e qualificar o nível de poluição na atmosfera e a contaminação do solo. A engenheira química, doutora Maria Angélica Martins Costa, vai monitorar especificamente as partículas emitidas pela queima de biomassa. Segundo ela, “a emissão dessas partículas está diretamente relacionada com a saúde da população; com os efeitos globais e também o quão maléfico isto é não somente para a população que está próxima as áreas das queimadas, mas também para quem está a muitos quilômetros de distância. Vamos poder provar, quantificar, determinar, caracterizar tudo que tem nessa fumaça; como os produtos químicos, por exemplo, que são emitidos. Mas o nosso foco é mostrar as principais partículas respiráveis, aquelas que vão afetar com maior intensidade a saúde das pessoas de Rondônia e mais ainda as pessoas que trabalham diretamente com o fogo”, constata.
ESTUDOS ESPECÍFICOS
De acordo com o engenheiro agrônomo e doutorando, Elias Ferreira – da Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/Usp), a pesquisa vai contribuir para a análise dos impactos físicos, químicos, biológicos e a emissão de CO2 (gás carbônico) no solo. “Também das alterações do uso do solo, pois quando se faz uma remoção da floresta é alterado todos os ciclos: nutrientes, solo, água e o agricultor – na Amazônia – de um modo geral, ocupa a terra após o corte da mata e usa muito o fogo para limpar a terra. Isso traz implicações para a fertilidade do solo e, consequentemente, para a produção”, afirma.
Larissa Richter, mestranda da Universidade Estadual de Campinas, considera a importância de participar da experiência e disse que por ser “algo inédito realizado em solo rondoniense amplia os conhecimentos em minha área de pesquisa. É muito importante para a minha profissão – que tem como foco a química ambiental. Trabalhos em campo são difíceis de se elaborar, porque estamos tentando averiguar se, por exemplo, tudo aquilo que a gente previu em laboratório acontece na prática”.
Ainda segundo Richter, que estuda especificamente a emissão de mercúrio na atmosfera em função de queimadas na floresta amazônica, o programa ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU) constatou que 8% do mercúrio emitido no mundo é em função dos incêndios florestais. “Minha linha de pesquisa é baseada na emissão desse metal. E qual é a problemática? O mercúrio é um elemento comum na natureza, mas ele é extremamente tóxico. É importante que a gente realize esse estudo em Rondônia, porque é um ambiente onde há muito mercúrio. Uma característica desse metal é que ele é encontrado na natureza, em pequenas concentrações. Mas, à medida que nós aquecemos o solo, por meio da queimada da vegetação, ele – que está na superfície – pode ser liberado para atmosfera. Uma vez emitido, pode migrar através das correntes de ar. Então, o mercúrio que estava aderido ao solo e parado é lançado pode contaminar a população, os animais. O mercúrio pode ser respirado. Hoje, nós vamos poder quantificar esses efeitos”, assegura.
Resultados da pesquisa devem sair em seis meses
De acordo com o superintendente substituto do Ibama-RO, Roberto Fernandes Abreu, além dos pesquisadores das universidades, participaram efetivamente do evento cerca de dez brigadistas que formam a Brigada de Jequitibá. “Eles foram capacitados para tomarem todas as precauções, buscando prevenir e minimizar os riscos dessa experiência – porque vamos analisar todas as etapas de um incêndio. Mais de 20 pessoas estão envolvidas nessa atividade; de forma direta. Indiretamente há mais pessoas envolvidas e outros órgãos públicos também, inclusive a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental que autorizou a área para que pudéssemos fazer a queima. É um trabalho que dará mais respaldo às ações de combate aos incêndios florestais e a proteção efetiva dos recursos naturais. Em seis meses esperamos obter todos os resultados dessa pesquisa”, concluiu. A partir de fevereiro de 2015, de posse desses resultados, a comunidade científica, portanto, terá um instrumento que subsidiará políticas públicas mais eficientes quanto ao monitoramento e combate às queimadas florestais na região amazônica. Ações que, certamente, vão preservar o meio ambiente e promover mais saúde e mais qualidade de vida para a população rondoniense, com efeitos benéficos também para todo o planeta. (Por Edilene Santiago)
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