22 de abril de 2013

Jerônimo quer revelar a história de Rondônia

O ex-governador de Rondônia, Jerônimo Santana

Porto Velho, Rondônia - Primeiro governador eleito de Rondônia pelo voto direto, Jerônimo Santana, que no dia 29 de outubro completará 79 anos, tem afirmado aos amigos e políticos que sua mudança para Brasília não foi motivo suficiente para se distanciar dos problemas do Estado. “Acompanho o noticiário local pela internet e recebo todas as semanas jornais e revistas de Rondônia”, disse, completando que sua biblioteca já não tem mais espaço para acomodar revistas, livros e jornais.
O noticiário do Estado também chega por telefone e visitas de políticos em sua residência no Lago Sul de Brasília. Na última quinta-feira, o ex-governador recebeu a equipe do Diário em sua casa. “Infelizmente Rondônia ainda sofre pela falta de conhecimento da população. Se a população tivesse o costume de ler e ficar bem informada, não votaria em políticos sem formação cultural”, pondera. Em 17 de março de 2004, o ex-governador sofreu um derrame e ficou internado um ano no Hospital Sarah Kubitschek, na Capital do País. Antes da entrevista, Jerônimo passou por uma bateria de exames que faz periodicamente, a pedido do médico. “A saúde dele está boa”, comemora a filha Julieta, 33, que auxilia o pai na rotina corriqueira do dia a dia. Julieta também cuida do único irmão, o Jerônimo Filho, 31, que tem esquizofrenia. Jerônimo recebe pensão de ex-governador. Parte do dinheiro é empregado na compra de medicamentos e tratamento médico.
Natural de Jataí (GO), Jerônimo chegou a Rondônia em julho de 1965. Formado em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, exerceu a função de advogado em Porto Velho. Militante do antigo MDB, foi deputado federal, prefeito da Capital e depois renunciou para disputar o governo, em 1986. “Fiz campanha a pé em Guajará-Mirim. Muitos não acreditavam na minha vitória”. Jerônimo é apaixonado pela leitura. Na entrevista ao Diário, ele conta que está escrevendo três livros e fala um pouco do seu seu governo.
Diário: O senhor está escrevendo livros sobre o que?
Jerônimo Santana: Sobre política e Amazônia. Na verdade são três livros: “Salvemos a Amazônia”, “Do Outro Lado do Poder” e um sobre a Universidade Federal de Rondônia (Unir). O que que trata da Amazônia está praticamente pronto. Estamos em processo de negociação das imagens.
Diário: O senhor tem conhecimento dos problemas do Estado?
Jerônimo: Sim. Recentemente apresentei sugestões para parlamentares federais. São medidas que podem ajudar o Estado. Mas fiquei sabendo que um deles jogou essa ‘agenda de problema’ na lata do lixo. A população precisa escolher melhor seus representantes nas eleições para não eleger pessoas inexperientes.
Diário: Antes da última eleição para governo, o senhor recebeu a visita do governador Confúcio Moura. O que vocês conversaram?
Jerônimo: Sobre os problemas do Estado. Disse para o governador não cometer os mesmo erros que cometi. Não fui bem assessorado e meu governo acabou sendo prejudicado por secretários despreprados. Me coloquei à disposição dele.
Diário: Se o senhor fosse governador, qual seria sua prioridade.
Jerônimo: Educação. Sempre priorizei no meu governo. Inaugurei escolas, levei o Ensino Médio à população ribeirinha. Hoje, a população comete muitos erros por falta de conhecimento. A comunidade ainda sofre devido à falta de leitura. Uma população com poder cultural sabe escolher um bom político através do conhecimento.
Diário: Conte sua experiência como deputado federal.
Jerônimo: Fui o deputado que mais usou a tribuna para defender o povo. Foi uma experiência de luta. Naquela época, tínhamos somente três assessores. Hoje, os parlamentares têm mais de 20 assessores e não conseguem ajudar o Estado.
Diário: Qual avaliação do seu governo?
Jerônimo: Deixei muita obra de escola pronta no Estado. Meu sucessor foi cara de pau. Fez minirreformas em escolas e colocou o nome dele nas placas. Essas obram nasceram no meu governo. Na época, recebia apoio do ex-presidente José Sarney em programas de recuperação de estradas. Construí 13 hospitais naquela época, quando já existiam 300 mil crianças sem escola. Conseguimos colocar uma boa parte para estudar. Sugeri recentemente para a classe política ajudar a construir em Rondônia o Memorial Marechal Rondon, que foi de grande valia para o Estado por conta de sua passagem por Rondônia. É preciso ter, em Porto Velho, um espaço para lembrar o Marechal Rondon. O Território Federal ficou 38 anos sem faculdade. Naquela época, a educação já era deixada em segundo plano. Hoje, apesar das faculdades, muitos políticos não têm formação.
Diário: Como era seu relacionamento com a Assembleia Legislativa?
Jerônimo: Era difícil. O ex-deputado Neri Firigolo sempre me atacava na tribuna.
Diário: Por que o senhor decidiu sair do PMDB?
Jerônimo: Lá tem boas pessoas, mas tem ainda muita gente ruim. Me arrependo até hoje de entregar a prefeitura para o meu vice, o ex-prefeito Tomás Correia. É opoturnista. O PMDB está quebrado. Eles conseguiram fazer isso. O Luiz Lenze, é outro.
Diário: Por que Rondônia?
Jerônimo: Fui primeiramente para o Barra da Garça, no Mato Grosso. Encontrei um funcionário do SPI [Serviço de Proteção ao Índio] e ele falou bem de Rondônia. Comentou sobre a febre do minério e isso me despertou. Fui atraído pelo Estado novo que estava prestes a sair.
Diário: o senhor exerceu a profissão de advogado na Capital?
Jerônimo: Quando advogado, ajudei muita gente, que não tinha dinheiro na época para pagar um advogado. Muitos queriam me pagar pelos serviços jurídicos com uma galinha. Tenho até hoje uma caderneta com o nome dessas pessoas. São mais de 500 pessoas.
Diário: O senhor foi pressionado a entrar na politica?
Jerônimo: Na época existia só MDB e Arena. Eu era contra a Arena desde Goiás. Fui convidado a me filiar ao MDB. Fiz uma campanha pobre, andando a pé. Em Guajará-Mirim, andei de ônibus e não tinha material de propaganda. Manoel Pontes Pinto era meu adversário.
Diário: Qual avaliação do governo Confúcio?
Jerônimo: Um governo quando faz muitos acordos políticos enfrenta dificuldade para governar. É o que acontece hoje em Rondônia. Um governo de coalizão com muito problema para administrar. (Marcelo Freire)

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