Passados quatro anos desde que teve suas obras iniciadas no rio Madeira, em Porto Velho (RO), a hidrelétrica de Jirau vai começar a entregar energia a partir da segunda quinzena de junho. Será ligada a primeira turbina, de um total de 50, que terá sua geração conectada ao sistema interligado nacional (SIN), rede de transmissão que liga os Estados do país.
Ontem, o Consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR), dono da hidrelétrica, formalizou o pedido de comissionamento (teste) de sua primeira turbina na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). "Nossa primeira máquina entra em operação daqui a um mês. Até o fim deste ano, vamos intensificar a ligação das mais máquinas", diz o presidente do ESBR, Victor Paranhos.
O plano do consórcio prevê o acionamento de 13 a 15 turbinas até dezembro. As 50 máquinas da hidrelétrica devem entrar em operação plena até junho de 2015. A transmissão da energia, afirma Paranhos, começará a ser feita por meio de uma linha de transmissão regional, que liga Rondônia e Acre. Entre 30 e 60 dias, o escoamento finalmente deverá ter início pelo linhão do Madeira, que parte de Porto Velho até Araraquara, no interior de São Paulo. A multinacional francesa GDF Suez tem 40% de participação acionária em Jirau, que conta com uma fatia minoritária da Chesf (20%) e da Eletrosul (20%) e Mitsui (20%). A hidrelétrica, que deve absorver investimento total superior a R$ 13 bilhões, tem potência de 3.750 megawatts (MW), com 2.186 MW de geração média garantida.
Hoje, a diretoria da Aneel deve tomar uma decisão crucial a respeito da geração de energia prevista para as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, sua vizinha no rio Madeira, nas proximidades de Porto Velho. Está prevista uma definição sobre qual será, finalmente, a cota - altura do espelho d"água - de operação de Santo Antônio. O desenho da usina, que previa 3.150 MW de capacidade e instalação de 44 turbinas, foi redesenhado para receber 50 máquinas e gerar 3.569 MW de potência. Para que essa ampliação seja viabilizada, o nível do rio tem de subir de 70,5 para 71,3 metros. Os donos de Jirau, que tem sua barragem localizada acima (jusante) da barragem de Santo Antônio, reclamam que essa alteração afeta o nível de queda da água que chega até as suas turbinas, comprometendo a meta de geração extra que a empresa pretendia entregar.
Com orçamento de R$ 16 bilhões, a usina de Santo Antônio tem seu consórcio liderado Furnas, seguida pelo Fundo Amazônia Energia, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Cemig.
A briga é antiga. No ano passado, a ESBR chegou a afirmar que o projeto de expansão de Santo Antônio poderia levar riscos à estrutura física de sua barragem, com possibilidade de ocasionar desastre ambiental sem precedentes no país. Estudos chegaram a ser apresentados à Agência Nacional de Águas (ANA) e à Aneel. Essas alegações, no entanto, foram rejeitas pelas duas instituições.
Nas contas da Aneel, a mudança de cota, somada à ampliação do número de turbinas que foi permitido para cada um dos projetos, vai significar um ganho extra de 396 MW médios de geração, sendo que 207 MW destes ficam com Jirau e 189,3 MW com Santo Antônio. Ocorre que Jirau reclama que, se a cota não fosse elevada, teria ainda 58 MW de energia para vender.
Com o propósito de levar a negociação adiante, a ESBR deixou de lado as reclamações sobre riscos ao meio ambiente e à vida da população que vive na região. O que realmente está em jogo, neste momento, são as dezenas de milhões de reais em receita anual que o consórcio de Jirau quer garantir. A ideia é aceitar a elevação de cota proposta pelo Consórcio Santo Antônio, desde que ele aceite pagar pela energia extra que Jirau deixa de gerar, ou seja, Santo Antônio teria de repartir o lucro que terá com a ampliação de suas máquinas. O consórcio resiste à proposta. Para a Aneel, o que importa é o "aproveitamento ótimo" das duas usinas que estão sendo construídas no complexo do rio Madeira. (Valor Econômico)
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