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Polícia Federal faz busca e apreensão na Assembleia |
Porto Velho - Rondônia A
combatividade à corrupção em Rondônia tem um de seus marcos no
dia 18 de novembro. Nesta data, em 2011, o Ministério Público do
Estado (MP-RO) e a Polícia Federal (PF) deflagravam a Operação
Termópilas, que desmembrou uma organização criminosa estabelecida
na administração pública e especializada no desvio de recursos
públicos.
Escrupuloso,
o esquema tinha como alvo prioritário a Secretaria de Estado de
Saúde (Sesau), onde empresas prestadoras de serviço tinham os
contratos superdimensionados. “Esse tipo de serviço é cobrado por
metro quadrado. A quadrilha incluía no negócio a metragem das
paredes e do teto na soma da área, como se tudo fosse piso a ser
limpo”, explica o assessor de Operações Especiais da
Controladoria Geral da União (CGU), Wagner de Campos.
A
análise prévia de parte dos processos indicam que os desvios
cometidos apenas na Saúde do Estado somam R$ 23 milhões. “Só
foram analisados processos de 2011. Logo, essa é uma conta parcial
que pode aumentar com a continuidade da investigação”, avisa o
procurador-geral de justiça do MP-RO, Héverton Aguiar. A conta
parcial coloca nesta soma mais R$ 1 milhão, fraudados da Secretaria
de Estado de Justiça (Sejus) e do Departamento Estadual de Trânsito
(Detran).
Diante
da investigação o MP rondoniense denunciou ao Poder Judiciário dez
pessoas, incluindo o ex-deputado Valter Araújo, à época presidente
da Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO) e que era o
responsável por capitanear o esquema fraudulento. Ele e os nove
comparsas foram denunciados por extorsão,
formação de quadrilha, falsidade ideológica, peculato, corrupção
passiva e ativa, advocacia administrativa, violação de sigilo
funcional, tráfico de influência e outros.
Polícia
investiga paradeiro do chefe da quadrilha
Junto
com a operação, em 18 de novembro do ano passado, o Ministério
Público estadual (MP-RO) obteve junto ao Tribunal de Justiça de
Rondônia (TJ-RO) o decreto para prisão preventiva do ex-deputado
Valter Araújo. O chefe da quadrilha desmontada pelas investigações
foi encaminhado para o Presídio Federal de Porto Velho onde não
ficou instalado por mais de 30 dias.
Em
meados de dezembro a ministra Maria Thereza de Assis Moura, do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), concedeu a Araújo o direito de
liberdade através de Habeas Corpus.
Foi o necessário para que a principal peça da quadrilha deixasse o
presídio federal da Capital e desaparecesse, sendo até hoje o seu
paradeiro desconhecido pela Justiça.
“Valter
estava preso, foi colocado em liberdade e desde então fizemos várias
diligências de busca, mas até o momento não foi encontrado”,
comenta o superintendente da Polícia Federal de Rondônia (PF-RO),
delegado Donizetti Tambani. Ele garante, entretanto, que os agentes
federais continuam monitorando as possibilidades de paradeiro do
foragido.
Procurador-geral
de justiça do MP, Héverton Aguiar lamenta que não se possa dizer
aonde encontrar o ex-deputado e chefe da quadrilha que agafanhou as
milionárias cifras do Governo Estadual. Ele é otimista, no entanto,
ao tratar sobre a descoberta da localidade onde Araújo está
escondido. “Temos órgãos e profissionais de muita competência
trabalhando sobre isso e creio que, para surpresa de muitos, ele será
encontrado antes do que se espera”, despista enigmático.
PEÇA
CHAVE DO PROCESSO, VALTER ARAÚJO PRECISA SER OUVIDO
Ter
a presença do ex-deputado Valter Araújo sob guarda da Justiça não
é um mero esmero por parte dos órgãos investigativos. O
procurador-geral de justiça do Ministério Público de Rondônia
(MP-RO), Héverton Aguiar, explica que as investigações apontam
Araújo como mentor e coordenador de três núcleos que agiam de modo
simultâneo e complementar, sendo ele o maior detentor das
informações sobre o esquema. “Havia uma estrutura empresarial, um
grupo de políticos mancomunados com o ex-deputado e um eixo de
lobistas atuando em prol dos objetivos comuns do grupo”, minucia
Aguiar.
O
núcleo empresarial era formado pelas empresas Reflexo Limpeza e
Conservação, Romar, Fino Sabor, MAQ-Service, Contrat e outras.
Pertencentes a “laranjas”, as corporações ocultavam os
verdadeiros proprietários, como é o caso da Reflexo e Romar que
figuravam como de propriedade do próprio Araújo. Já os lobistas
faziam os trabalhos de contato, “serviam como uma espécie de elo
para que a quadrilha alcançasse seus objetivos”, exemplifica
Aguiar.
Já
o eixo político envolvia sete deputados estaduais, além de Araújo.
“Estes parlamentares foram cooptados para dar sustentação ao
líder e mantê-lo no poder”, anota Aguiar. Foram envolvidos no
escândalo as deputadas Epifânia Barbosa (PT) e Ana da 8
(PT do B), além dos colegas Flávio Lemos (PR), Jean
Oliveira (PSDB), Saulo Moreira (PDT), Zequinha Araújo
(PMDB) e Euclides Maciel (PSDB). O procurador-geral do MP
ressalva que “as investigações não apontaram, até o presente
momento, ligação entre os deputados e a corrupção praticada nas
empresas”, com exceção de Araújo.
Herdeiro
da presidência na Casa de Leis estadual, Hermínio Coelho (PSD)
recorda que a Assembleia Legislativa do Estado (ALE-RO) cumpriu suas
prerrogativas e puniu todos os parlamentares envolvidos na quebra de
decoro. Do grupo, Valter Araújo teve seu mandato cassado enquanto os
demais respeitaram suspensão de suas funções na ALE por 30 dias.
“Muitos questionam a suspensão mensal do mandato, mas há uma
certa limitação nas medidas corretivas. Era cassar ou dar essa
suspensão e nós entendemos que essa era a melhor escolha. Se foi
correta ou branda, importa que (os deputados) foram punidos”,
reforça Coelho.
MP
PREVÊ NOVAS SENTENÇAS AINDA EM 2012
O
procurador-geral de justiça do Ministério Público de
Rondônia (MP-RO), Héverton Aguiar, comenta com satisfação os
avanços que o caso Termópilas alcançou durante este primeiro ano
de continuidade às investigações. “Esta operação tem sido uma
referência nacional. Não há registros anteriores no País em que o
MP e a Justiça Federal tenham conseguido condenações em tão curto
espaço de tempo. Temos a expectativa de que até o fim de 2012
cheguemos a dez condenações”, observa.
Por
enquanto, o Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) já condenou
cinco dos 35 denunciados pelo MP-RO, a saber: os servidores públicos
Cleozemir Texeira, Esmeraldo Batista Ribeiro, Marcos Alves Paes,
Maria Aparecida Daves de Moraes Bregense e o empresário Júlio César
Fernandes Martins Bonache, que mantinha contrato para fornecer
alimentação aos apenados e plantonistas do sistema carcerário.
Para
Aguiar, as investigações realizadas pela Polícia Federal de
Rondônia (PF-RO) é um dos fatores que permite a obtenção da
condenação em curto espaço de tempo. “O trabalho feito pela PF
foi muito criterioso e profissional. Esse grande acúmulo de provas
materiais permitem aos magistrados uma maior segurança no momento de
analisar os inquéritos e deferir as condenações”, pondera o
procurador-geral.
Segundo
o superintendente da PF no Estado, Donizetti
Tambani, as investigações tiveram inicio em 2010 e pode ser
apontada como uma excelente experiência. “A integração entre o
MP e a PF deu resultados muito positivos. Essa aparente demora no
desfecho da operação é porque o trabalho não pode ser leviano. É
preciso autoria e a materialidade de provas para dar um melhor
embasamento ao Judiciário, a fim de que a ação penal prospere”,
enfatiza.
ADVOGADO
DE ARAÚJO ACREDITA NA SUSPENSÃO DO PROCESSO
Em
janeiro deste ano o Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) acatou
as acusações apontadas pelo Ministério Público estadual (MP-RO)
contra o ex-deputado Valter Araújo. À época a defesa de Araújo
alegou que o ex-deputado não teve tempo para analisar os autos, com
cerca de três mil laudas e acrescentou que que as escutas
telefônicas usadas na investigação eram nulas.
Dez
meses depois, o advogado Luciano Chiappa, que reside e atua na cidade
de Cuiabá, analisa que não só as escutas, mas “a maioria das
denúncias são vazias”. Independente da opinião profissional, ele
explica que a defesa adotou uma estratégia processual, em que
acompanha os editais oficiais onde o caso é citado e arrola as
testemunhas, dependendo de cada caso. “Faço apenas a defesa
técnica da acusação, baseada nos documentos”.
Diante
da atual conjuntura, com o paradeiro de Araújo desconhecido, Chiappa
entende que uma condenação é algo improvável. “Se este processo
fosse antes de 2008 já estaria suspenso. Hoje observa-se um modelo
diferente, em que primeiro se faz o arrolamento das testemunhas e por
último se escuta o que o réu tem a declarar. Como não se pode
ouvir o que ele tem a dizer, entendo que observados os prazos o
processo será suspenso”, estima.
Questionado
se Araújo tem acompanhado os desdobramentos da Operação
Termópilas, Chiappa revela que não tem condições de responder a
pergunta. “Eu não falo com o Valter. Todo o contato que tenho é
com a família que, até onde sei, também não conversa com ele. Por
mais estranho que pareça, este é um fato comum no cotiano de
advogados. Há muitas situações em que fazemos a defesa sem
conversar ou encontrar o cliente”, eximi-se Chiappa.
Apesar
da negativa, informações extraoficiais obtidas pela equipe do
Diário dão conta de que Araújo tem contatos regulares com
sua esposa, Talita Araújo.Chiappa relata que após o Habeas
Corpus emitido pelo STJ teve três dias de intenso contato com o
cliente. Da época, ele se limitou a dizer que ambos conversaram
bastante e que Araújo assinou cerca de 70 procurações, para que
pudessem ser adotados os procedimentos legais no curso do processo.
Nem mesmo a possibilidade de seu cliente ser encontrado pela Polícia
Federal parece incomodar o advogado. “Caso isso aconteça o caso
terá uma reviravolta, mas a partir daí vale a máxima de que as
chances para condenação e absolvição são iguais”.
OPERAÇÃO
CONTRIBUI PARA MOLDAR NOVOS PADRÕES POLÍTICOS
De
grandes proporções a Termópilas entra em mais um ano de existência
buscando condenar os demais envolvidos na corrupção deflagrada e
encontrar o mentor de todo este esquema. Mesmo que ainda tenha
objetivos em aberto o procurador-geral de
justiça do Ministério público (MP-RO), Héverton Aguiar, vê
avanços naquilo que foi realizado até o momento.
“As
primeiras condenações são importantes vitórias e mostram a
qualidade da investigação realizada pelo MP e pela Polícia
Federal, bem como a eficiência do Poder Judiciário rondoniense”.
Ele acrescenta que os bens de todos os que estão sendo processados
nas investigações estão bloqueados, visando precaver o Estado de
um possível reembolso. “O principal objetivo é ressarcir o povo
de um valor que lhe era de direito”.
Para
o superintendente da Polícia Federal em Rondônia, Donizetti
Tambani, a execução da operação no Estado serve para mostrar a
prontidão da Polícia e do MP em combater a corrupção, a qual
classificou como um câncer social. “Toda verba pública desviada
deixa de ser usada em seu fim e atrapalha não só o progresso local,
mas de todo o País. Alimenta essa lógica perversa onde o dinheiro
permanece na mão de poucos e a sociedade sofre as consequências”.
O
presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO), Hermínio
Coelho, pactua com Tambani e destaca que este não
é um privilégio local. “É a prática da política brasileira,
que é danosa até para o corrupto. É preciso rever estes conceitos
políticos e ações como estas servem para que aqueles eleitos pelo
povo reavaliem suas condutas”, observa.
Como
contra ponto, ele destaca as benesses da situação adversa. “Temos
um MP, Polícia Federal e Judiciário mais atuantes, o que torna mais
fácil combater estas práticas. Queríamos que fosse mais do que é
hoje, mas com certeza estamos avançando”, entende Coelho. (COM
REPORTAGEM DE ADÃO GOMES)