Presidente da ALE, Hermínio Coelho, do PSD |
No
próximo dia 1º de fevereiro, o presidente Hermínio Coelho se
prepara para o ato de posse para mais um biênio (2013/14) na
presidência do parlamento com a missão de continuar lutando pela
independência e transparência das ações do Poder Legislativo. Ele
acredita que se manterá no cargo, mas não descarta conspirações
da base governista para derrubá-lo. “Eles sabem que não darei
trégua. Este governo não vai se manter em 2013”,
vaticina
Hermínio
fez um balanço da sua gestão: “O primeiro ano de gestão foi
muito difícil”, disse o parlamentar, ao lembrar da operação
“Termópilas”, deflagrada pela Polícia Federal e que culminou
com a prisão do ex-presidente Valter Araújo. Na época, Hermínio
ocupava o cargo de vice-presidente e foi conduzido ao cargo de
presidente. “Hoje a Assembléia está bem diferente e estamos
trabalhando para continuar com essa independência”, acredita.
Com
47 anos, Hermínio nasceu na localidade de Dormente, na época,
distrito de Petrolina (PE). Chegou em Rondônia no início
da década de 90, após ser demitido em uma metalúrgica na cidade de
São Paulo. “Fui demitido por defender um trabalhador”, recorda.
Casado, pai de cinco filhos, e oriundo de família humilde, o
parlamentar já enfrentou muitas dificuldades na vida e
chegou em Porto Velho duro, sem um centavo no bolso, mesmo
economizando o que podia, numa desgastante viagem e ônibus.
Em
entrevista ao Diário, ele fala da sua trajetória
sindical, sua ascensão na política e as dificuldades que enfrentará
a partir de 2013. Sobre o plano político, ele é bem enfático: tem
cartas na manga para derrubar o poder dominante e não dará trégua
num ano que vaticinou ser de crise para o estado, numa
visão antagônica a do governador Confúcio Moura que anunciou 2013
como o melhor ano para o estado. Abaixo, sua entrevista:
Diário
– Relate como foi sua chegada a Porto Velho...
Hermínio
- Antes de chegar a Porto Velho, no início dos anos 90, trabalhei em
uma metalúrgica na cidade de São Paulo. Fui demitido por defender
trabalhador. Resolvi então procurar emprego em Porto Velho. Durante
a viagem, meu único dinheiro acabou em Cuiabá. Chegando na cidade,
não dinheiro nem para pagar um táxi. Minha mãe, na época
trabalhava de emprega, que veio me buscar.
Diário
– Como foi seu primeiro emprego ?
Hermínio
- Meu primeiro emprego foi na empresa de transporte público Porto
Velho. Tive que fazer a barba e tomar um banho para conseguir
emprego. Fiz testes para entrar na empresa e sai empregado na função
de cobrador. Com cinco meses de trabalho, fui demitido por não
colocar ordem dentro do ônibus era os tempos duros das
gangues e era difícil controlar o acesso a noite, muito
tumultuado.
Diário
– E de líder sindical a vereador foi um pulo...?
Hermínio
- Me candidatei na eleição da SIPA. De 200 trabalhadores, recebi
apoio de 140 funcionários. Eu era vice-presidente da Sipa. Entrei
na Sipa para o não ser demitido. Nunca participei de
reunião de sindicato. Na época, o motorista não ganhava 300
tarifas, em decorrência da inflação. Fiz oposição e tirei o
presidente do cargo. Eu candidatei em 93 presidente do
Sindicato dos Cobradores de Ônibus. Na época, me ofereceram dois
ônibus para mim renunciar da Sipa.
Diário
– E o seu ingresso na política partidária?
Hermínio
– Decidi disputar uma vaga na câmara de vereadores e fui eleito.
Em 96 me reelegi. Resolvi então concorrer ao segundo mandato em
2000. Fui o oitavo mais votado e o primeiro do PT. Em 2004 fui
reeleito vereador e o mais votado. Fui líder do prefeito Roberto
Sobrinho na Câmara, mas quando vi as coisas erradas acontecendo,
resolvi cair fora. Nunca fiz parte da panela do PT. Em 2007 fui
eleito presidente da Câmara e alertei o prefeito em muitas coisas.
Todas as denúncias foram protocoladas no PT e eles queriam me
expulsar do partido. 100% das denúncias foram comprovadas na
operação “Vórtice”.
Diário
– Como foi sua eleição a deputado, num quadro de disputa difícil,
de muitas candidaturas na capital e seu nome preterido pelo poder
dominante no seu partido?
Hermínio
- Em 2010 na disputa a Assembléia Legislativa o PT tinha
vários secretários e eram considerados favoritos na disputa pelas
cadeiras. Fiz minha campanha em 2010 falando mal do prefeito Roberto,
ninguém tinha coragem de fazer isto. Eu já sabia que seria eleito,
mesmo enfrentando a máquina municipal.
Diário
– O senhor assumiu a presidência da Assembléia Legislativa num
momento de crise, numa travessia. Quais foram às principais
dificuldades?
Hermínio
– Foi realmente uma situação difícil. Mas o Parlamento estadual
está resgatando a credibilidade. Hoje a Casa está diferente. Mas é
muito complexo administrar uma Assembléia com 24 deputados. São
interesses diferentes. O parlamento tem que dar condições para que
o deputado não mendigar para o Executivo e isso eu tenho feito. O
parlamentar tem condições de viver sem mendigar o Executivo.
Diário
- Que balanço o ser faz da sua administração depois de um ano na
presidência da Casa ?
Hermínio
– A Assembléia não faz oposição ao governo. Só de
financiamentos para o governo, aprovamos mais de R$ 980 milhões,
além de fazer remanejamento de recursos para outras secretarias.
Nunca fui pedir emprego para o governador. Se tiver alguém
competente para trabalhar na Assembléia eu contrato. Não tenho
pessoas capacitadas para trabalhar. O puxa-saco é uma
desgraça no governo. Não existe nada do que gratificante fazer o
bem. Não tem dinheiro do mundo que pague e o balanço de 2012 é de
um ano produtivo, de muito trabalho. Estamos dando uma
resposta a sociedade.
Diário –
Ao seu ver quais são as grandes bandeiras, as grandes causas
rondonienses para 2013?
Hermínio
– Rondônia é um estado rico. Rondônia de ruim só tem os
políticos. Nunca houve reunião para discutir os problemas da saúde,
educação e segurança. Falta tudo. É necessário criar política
para o desenvolvimento de Rondônia. Os investimentos são
importantes, mas é necessário ter política econômica. A
agricultura é o futuro de rondoniense. Estou preparando para 2013.
Diário
– Tradicionalmente a classe política rondoniense é desunida. É
possível unir a Assembléia Legislativa, o governo do Estado e a
bancada federal nas causas comuns do estado?
Hermínio
– Muitos são eleitos com o mesmo discurso e enganando as pessoas.
Já fui enganado várias vezes. Os políticos sempre enganaram. A
transposição é a prova do desinteresse da classe política.
Rondônia é muito mais importante do que Amapá e Roraima e eles não
levaram isso em consideração. É possível se unir, mas falta
honestidade da classe política
Diário
- O tráfico de drogas assola Rondônia e a BR 364 se transformou num
corredor de exportação de cocaína para o sul do país e importador
de maconha para o Norte. Como combater este problema com mais
eficiência já que este quadro influi diretamente no aumento da
criminalidade?
Hermínio
– Em 1.100 quilômetros de fronteira não existe fiscalização. E
tão fácil fiscalizar o estado, mesmo sendo com tanta fronteira. Se
fizer uma fiscalização séria na BR-364 é possível
asfixiar o tráfico. Ninguém abre a boca para falar sobre o assunto,
estamos longe
Diário
- Com grandes lideranças já fora do jogo para 2014 seu nome já é
cogitado para disputar o governo do estado. O que tem a dizer a
respeito?
Hermínio
– Minha candidatura é uma coisa natural. Se o povo entender, serei
candidato. Estou preocupado em fazer minha parte. Não tenho
planejamento político. Quando comecei na Sipa não tinha
interesse em disputar eleição. Tudo acontece naturalmente.
Fiquei 7 anos no sindicato defendendo o povo. Não quero
ser governador de Rondônia para pagar um salário de R$ 1
mil para professor. Muitos não se preocupa em pagar
um bom salário e sim saquear o Estado. Se for governador e não
pagar um salário, eu entrego o Estado. Tem lutado para fazer um
grupo bom no Estado. Rondônia está agora dando exemplo para o
Brasil. Isso é fruto do trabalho do MP e do TJ e da própria
Assembléia.
Diário
–Estão chegando
dois novos deputados estaduais na ALE. Como vê a renovação
de lideranças?
Hermínio
– Esperamos que os dois deputados que estão chegando desenvolvam
um bom mandato e que defendam a população. Um deles, Cláudio
Carvalho, convivi na Câmara de Vereadores e depois de muitos
anos rompemos politicamente. Espero que hoje esteja mais consciente
de quem é Roberto Sobrinho.
Diário
– Rondônia tem crescido a 7 %, ao ano, o maior índice entre os
estados. Como explicar as dificuldades financeiras do estado?
Hermínio
– Eles estimaram um crescimento de Rondônia em 18,8% e com os
recursos da Transposição. Então, por isto estavam
gastando por conta. A arrecadação do Estado nunca caiu e o governo
arrecada bem, só que foi obrigado a se ajustar a
realidade. Falta planejamento, é um governo que esta perdido.
Diário
- A Lei de Responsabilidade Fiscal tem apertado prefeitos e
governadores em todo país. Atingiu a Assembléia Legislativa
também?
Hermínio
– Está apertando justamente pelos cálculos equivocados do governo
já que com isto o repasse para os demais poderes também foi
reduzido e ajustado. Pagamos R$ 12 milhões de pecúnia na
Assembléia. Ajudei o MP e chamar trabalhadores e arrumou R$ 5
milhões e o mesmo fez com a Assembléia. Foram R$ 2
milhões para viagem do funcionalismo a Brasília. Pagamos salário e
décimo dentro do mês trabalhado. Como o governo estimou em quase
20% o aumento do orçamento, ficamos agora fora do percentual.
Em algum meses passamos do limite. Precisamos demitir mais
pessoas e até abril para colocar a casa em ordem. Coisa difícil, a
gente demite um e vem uns 100 interceder.
Diário –
Seus planos para 2013?
Hermínio
– Vou seguir combatendo as irregularidades para 2013. Quero
inaugurar o novo prédio da Assembléia em 2014. Estou pedindo para o
MP e TJ acompanharem de perto. Só o projeto de ar-condicionado é R$
10 milhões e o prédio R$ 40 milhões. Se não tiver problema de
paralisação, será possível inaugurarmos esta grande obra em 2014.
Diário
– Procede, o que se fala nos bastidores, de que a base aliada do
governo estadual conspira para sua deposição em fevereiro?
Hermínio
– Olha, vontade eles têm. Falam em trégua, mas farei o
contrário no mês de dezembro e janeiro. Eu tenho apoio da maioria
dos deputados. Não podiam reclamar, pois temos aprovado
tudo que é de interesse do governo. Mas é essencial fiscalizar
todas as ações do estado e denunciado as coisas erradas. Estou de
plantão.
Diário
– Sua mensagem de fim de ano?
Hermínio
– Acredito que será um ano muito difícil para o Estado. Não
temos que esperar muita coisa. Vamos continuar na luta, defendendo o
nosso estado. Temos que reagir. Tudo depende dos políticos. Na
maioria das vezes, os políticos são contra o povo. Não devemos
esperar muita coisa deste governo. E o prefeito eleito
Mauro Nazif terá muita dificuldade para administrar o
município de Porto Velho já que pegará o espólio desta
roubalheira do Roberto Sobrinho.
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