Audiência discutiu aumento da cota da usina. Foto. J. Gomes |
Porto Velho, Rondônia - Feita
com o objetivo de informar a sociedade sobre o projeto de aumento da
capacidade de geração de energia da hidrelétrica de Santo Antônio,
com a inclusão de seis unidades de geração, a reunião pública
realizada na última quarta-feira, em Porto Velho, foi utilizada
pelos participantes para cobrar medidas de mitigação dos impactos
da obra. Transportados de ônibus pelo Consórcio Santo Antônio
Energia (SAE) até uma casa de eventos localizada na avenida Guaporé,
na zona Leste de Porto Velho, cerca de mil pessoas (segundo os
organizadores) do distrito de Jacy-Paraná e do assentamento Joana
Darc participaram do evento.
No meio da reunião, grande parte dos
participantes fez uma retirada em massa do recinto, alegando falta de
resposta para os questionamentos que estavam fazendo. Ao invés de
informações sobre a alteração do projeto, eles pediram
providências contra a água contaminada e o transbordamento de
fossas, provocados pelo encharcamento do lençol freático, além da
falta de políticas públicas para combate à prostituição
infantil, aumento do uso de entorpecentes e a falta de segurança
pública, entre outras demandas, no distrito de Jacy-Paraná.
Moradores das comunidades de São Sebastião, São Carlos, Calama e
vizinhança, no Baixo Madeira, também participaram pedindo
providências contra o sumiço de peixes, que tirou o ganha-pão dos
pescadores artesanais, e o desbarrancamento das margens dos distritos
e da cidade de Porto Velho.
A
reunião foi dirigida pelo diretor substituto da Diretoria de
Licenciamento do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente),
Thomás Toledo. O Ibama é responsável pelo licenciamento e
acompanhamento das medidas de compensação ambiental da hidrelétrica
e prometeu analisar as demandas levadas pelos moradores e, inclusive,
rever os relatórios elaborados pelo consórcio sobre a qualidade da
água das áreas afetadas. O presidente do consórcio, Eduardo de
Melo Pinto, e técnicos responsáveis pelo projeto de alteração do
projeto original da obra participaram do evento.
Com
um forte aparato policial e farta distribuição de lanches, a
reunião pública começou por volta de 17h e só foi finalizada
depois das 22h. A apresentação da alteração do projeto original
da hidrelétrica em reunião pública é uma exigência do Ibama,
para o licenciamento da obra. O 'Projeto Básico Consolidado
Alternativo da UHE de Santo Antônio' (nome oficial do projeto de
aumento da capacidade de geração) foi aprovado pela ANEEL (Agência
Nacional de Energia Elétrica (despacho 2.075/2013) em julho deste
ano.
Ampliação
vai afetar área de 7.700 hectares
Reservatório subirá de 70,2 para 71 metros |
Com
o aumento do parque gerador, será potencializada a incidência de
malária na região e o consórcio garante intensificar as medidas do
plano de contenção da doença desenvolvido junto com a prefeitura
de Porto Velho, que tem trazido bons resultados. A previsão é de
que o plano seja estendido até 2015 e o monitoramento da doença,
até 2021.
Ponte
da Madeira-Mamoré poderá ser remanejada
Técnicos
da Santo Antônio Energia (SAE) garantiram durante a reunião que,
com o acréscimo das seis unidades geradoras às 44 previstas no
projeto original, o reservatório da usina não vai atingir a zona
urbana do distrito de Jacy-Paraná, descartando a necessidade de
remanejamentos na localidade.
Já
a ponte remanescente da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, do rio
Jacy-Paraná, poderá ser retirada do local. Com a cota atual, a
estrutura de ferro instalada durante a construção da ferrovia (1908
– 1912) já está sendo afetada pelo empreendimento. A ponte fica
com meio metro submersa durante o período da cheia, situação que,
conforme os técnicos do consórcio, não afetaria a estrutura
metálica. Com a alteração do projeto, a água do reservatório vai
atingir 0,92% da área da APA Rio Vermelho C e o consórcio terá que
negociar um ressarcimento pela perda com o Governo do Estado.
De
acordo com os técnicos da SAE, a empresa deverá monitorar todos os
possíveis impactos e adotar medidas saneadoras ou mitigatórias para
todos os potenciais prejuízos da obra, tanto para a natureza como
para as pessoas que vivem na região.
Moradores
fazem relatos dramáticos de impactos da obra
Relatos
dramáticos de moradores de Porto Velho, principalmente de
Jacy-Paraná, marcaram os depoimentos e pedidos de providências
feitos durante a reunião pública. A falta de qualidade da água e o
transbordamento das fossas com o alteamento do lençol freático foi
a reclamação mais ouvida durante o evento. A mesma reclamação é
feita no Projeto de Assentamento Joana Darc, do Incra. Moradores que
providenciaram análise da água afirmam que a mesma não é
recomendada nem para lavar a louça. Segundo a Santo Antônio
Energia, o consórcio está ampliando o monitoramento da água em
Jacy e no Joana D`arc.
Já
o diretor de Licenciamento do Ibama, Thomás Toledo, que coordenou a
reunião pública, afirmou que todas as manifestações dos moradores
foram registradas para análise e serão verificados os relatórios
elaborados pela SAE sobre a qualidade da água, entre outros
problemas apontados pelos moradores. Uma das denúncias feitas na
reunião é a alagação do terreno onde foi construída uma Unidade
de Pronto Atendimento (UPA), em Jacy-Paraná, que ainda não está
funcionando. O fato foi negado por um técnico do consórcio mas,
diante do protesto dos moradores, o diretor do Ibama se comprometeu a
verificar a denúncia.
Reunião
pública em Jacy-Paraná
Thomás
Toledo também se comprometeu em verificar a possibilidade de fazer
uma reunião pública sobre o projeto de ampliação de geração de
energia da hidrelétrica de Santo Antônio em Jacy-Paraná, conforme
solicitação de moradores do local. Na semana passada, o Ministério
Público Federal e o Estadual ingressaram com uma medida cautelar na
Justiça, solicitando a suspensão da reunião pública da última
quarta-feira, sob a alegação de que não foram feitas oficinas para
preparar a população para o evento e também solicitando a
realização de reuniões nas regiões que seriam atingidas pela
alteração do projeto original da obra. A Justiça não acatou a
medida cautelar. Já a Santo Antônio Energia alega que conversou com
os moradores, "indo de casa em casa para explicar os impactos
positivos e negativos do projeto".
Mais
417 MW de energia
As
seis unidades geradoras previstas no projeto da SAE serão acopladas
entre as 44 do projeto original, permitindo um aumento de geração
de mais 417 MW. Esta energia será distribuída nos estados de
Rondônia e Acre, por meio de uma linha de transmissão a ser
construída, ligando o empreendimento à subestação da
Eletronorte. A ampliação do projeto vai gerar mais 20 mil empregos
diretos no período de um ano. Ao longo de 27 anos de concessão de
uso do empreendimento pela SAE, o aumento de geração de energia da
Santo Antônio vai render R$ 300 milhões em royalties, que serão
divididos entre a União, Estado de Rondônia e Município de Porto
Velho. (Ana Aranda/Diário da Amazônia)
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