A construção de um novo terminal portuário em Porto Velho é um sinal claro que o poder público nem sempre consegue acompanhar o ritmo da iniciativa privada. Com investimentos de R$ 150 milhões, entrou em fase de teste em fevereiro o porto do grupo Amaggi. Construído às marges de um dos maiores rios da Amazônia, o rio Madeira, na capital rondoniense, o projeto é considerado um dos mais modernos da Região Norte com capacidade de escoar 450 mil toneladas de grãos de soja por mês.
O terminal funciona na estrada da Penal em uma área estratégica e livre da enchente do rio Madeira, mas enfrenta um problema antigo de logística e bem longe da força da água: a falta de estrada até o local. A única estrada que dá acesso ao terminal não tem estrutura suficiente para receber o intenso movimento de carretas que transportam soja do norte do Mato Grosso com o destino ao local. O risco de acidente é constante.
Em setembro do ano passado, o então ministro dos Transporte, Paulo Sérgio Passos, anunciou que lançaria até novembro o edital do Contorno Norte, uma obra orçada em mais de R$ 200 milhões e que prevê a retirada do fluxo de carretas da região central de Porto Velho em direção ao porto do grupo Amaggi e porto público da capital.
Pelo projeto apresentado pela equipe de engenharia do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), as carretas que seguem pela BR-364 e precisam desembarcar os grãos no novo terminal portuário utilizariam outro acesso. Atualmente o transporte desses grãos acontece no perímetro urbano da cidade. Em horário de pico, comboios de carretas transportando soja dividem as avenidas da região central da cidade com carros pequenos, elevando o risco de acidentes e tornando o trânsito um verdadeiro caos.
Acesso a porto da Amaggi criticado por caminhoneiros
Depois de inaugurado, o porto da Amaggi, que fica na Estrada 28 de Novembro (também conhecida como Estrada da Penal) a cerca de 20 quilômetros do perímetro urbano da capital, seria um dos pontos principais para o desembarque de cargas que seguem de balsas pelo rio Madeira para o Estado do Amazonas e de lá para outros lugares do País e do mundo.
No entanto, alguns caminhoneiros têm criticado o acesso ao porto – que segue sem asfalto até hoje. “Eu não entendo como criam um porto novo, mas deixam a estrada que leva a ele sem asfalto. Aquele caminho se torna um pesadelo para os caminhoneiros que não podem descarregar no porto que fica perto do Centro de Porto Velho”, indaga Jairo Celso Code, que faz o caminho até o porto novo com certa frequência.
Ele reclama que a falta de pavimentação cria duas situações quase insuportáveis: “Quando não chove e o tempo está seco, é poeira para todo lado. Quase não dá para ver o que tem na frente. E quando cai a chuva, é lama e tudo fica perigoso. É bem complicada a situação”. Outra reclamação do caminhoneiro é o fato de ter que passar dentro da cidade para seguir ao porto, que tem prometida outra estrada que iria desde o ponto onde fica o hospital Irmãs Marcelinas, na entrada da cidade.
A nova estrada, até agora, ainda não saiu do papel e assusta alguns caminhoneiros de primeira viagem pela capital rondoniense. Um colega de Code, Oracildo Correia Taborda, que nunca fez o trajeto até o porto Amaggi se mostrou apreensivo com a primeira ida ao local. “Pelo que meus colegas estão dizendo eu vou passar por uns perrengues com poeira. Sem falar que é preciso passar pelo meio da cidade, o que dá um transtorno enorme para quem dirige”, explica destacando a importância de um acesso alternativo para a capital.
Cinco milhões de toneladas
Um estudo realizado pelo Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto de Porto Velho aponta que até 2018 o movimento portuário oficial alcance cinco milhões de toneladas. O governo do Estado tem assegurado vários investimentos no local e já está em fase de licitação a construção de um novo guincho.
Estudos feitos pelo Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto de Porto Velho indicam o aumento de um milhão de toneladas de graneis sólidos e outras 600 mil toneladas de carga geral. Diariamente, circulam pelo terminal portuário da capital cerca de 400 caminhões, transportando os mais variados tipos de cargas: soja, milho, cimento, carnes, combustíveis, alimentos perecíveis e não-perecíveis, contêineres, automóveis, cargas gerais e especiais, entre elas, peças de grande porte, a exemplo das que são utilizadas nas hidrelétricas do rio Madeira.
No ano passado, o Porto Organizado movimentou 2,9 milhões de toneladas de cargas, o que representa um crescimento de 13,02% em relação ao mesmo período em 2013, quando o movimento de carga e descarga foi de 2,5 milhões de toneladas.
A maior parte dos produtos movimentados abastece o mercado regional, mas eles alcançam mercados internacionais. Pela Hidrovia do Rio Madeira, grãos embarcados em Porto Velho chegam ao porto de Itacoatiara (AM).
Em quatro anos houve um acréscimo de um milhão de toneladas de cargas, entre importações e exportações, obtendo-se o crescimento de 2,4 milhões de toneladas para 3,4 milhões.
Investimentos atraem novos negócios
Enquanto a estrada não sai do papel, a construção do novo porto começa a atrair novos investidores. O grupo Amaggi pretende ainda inaugurar ao lado do terminal portuário uma fábrica de fertilizantes. O objetivo é atender a região de Rondônia e Mato Grosso. A empresa Equador, que atua no ramo de lubrificantes, está se preparando para construir um novo terminal ao lado do porto e já executa o serviço de terraplanagem no local.
“A importância do porto para Rondônia, além de ser econômico, proporciona atrair outras atividades que antes não eram estabelecidas em Rondônia”, disse o ex-governador do Mato Grosso Blairo Maggi. Está prevista também a construção de um porto público e a instalação da Zona de Processamento de Exportação (ZPE).
De acordo com o gerente de operações do porto antigo (Hermasa), Hermenegildo Pereira, o terminal novo representa embarque adicional. “Vamos continuar com nossas atividades normalmente [no Porto Organizado de Porto Velho]”. Para ele, a nova estrutura é estratégica para o Amaggi,
O grupo mato-grossense fatura algo em torno US$ 5 bilhões ao ano no Brasil e no exterior. Os investidores embarcam 2,8 milhões de toneladas de grãos ao ano e esperam expansão de 50%. A frota de 117 barcaças da Amaggi Navegação também deve ser ampliada no decorrer do ano. O novo terminal possui duas linhas de descarga de caminhões, quatro silos e uma esteira para carregar barcaças. (Marcelo Freire e Emerson Machado)