Equipes da Funasa chegam ao distrito de Surpresa |
Porto Velho, Rondônia - Fundamental
para a saúde, a água vem sendo tratada com descuido em Rondônia. A
constatação é da Superintendência da Funasa (Fundação Nacional
de Saúde) no Estado, com base em visitas técnicas já realizadas em
diversas pequenas comunidades. A última visita foi feita no distrito
de Surpresa, em Guajará-Mirim, com aproximadamente 600 habitantes,
abastecida por um antigo sistema que apresenta problemas sérios de
contaminação. "O problema é geral. As poucas comunidades que
contam com sistemas de abastecimento de água não conseguem
mantê-los", explica o superintendente do órgão, Ivo Benitez.
Além
da falta de investimentos no setor, a formação geológica também
propicia a contaminação da água. "Aqui (em Rondônia) com
poucos metros de profundidade já se encontra água e nos poços mais
rasos a contaminação é maior. O tipo de solo, arenoso,
potencializa o problema", explica o superintendente. A situação
é grave e o superintendente pretende ampliar o trabalho de pesquisa
da qualidade da água e orientação da população e levará esta
sugestão para uma reunião de planejamento do trabalhado da Funasa
para o próximo ano, marcada para dezembro.
Bioquímico e técnico da equipe da Funasa encarregada de levar apoio e informação para o programa de "Controle de Qualidade da Água para Consumo Humano", Gilberto Lidgero, percorreu várias localidades do Vale do Guaporé, onde viu uma situação "preocupante". Ele visitou áreas de remanescentes de quilombolas da região, onde vivem pequenas comunidades em locais de difícil acesso. A maior parte utiliza os chamados poços amazônicos e nas poucas áreas onde foram construídos poços tubulares, os sistemas são antigos e não tiveram a devida manutenção. É o caso de Pedras Negras, em Santo Antônio do Guaporé, onde a população utiliza água do rio Guaporé, sem qualquer tratamento.
Hipoclorito
Lidgero
relata que nas pequenas localidades, há dificuldades para as
condições mínimas de tratamento da água, como a disponibilidade
de hipoclorito, produto utilizado para limpeza da água. Os
relatórios sobre as deficiências são encaminhadas para as
prefeituras, mas nem sempre a municipalidade providencia as medidas
necessárias. Recentemente, um procurador estadual solicitou o
relatório da Funasa sobre a contaminação de água de uma escola
rural de Espigão do Oeste. A contaminação foi constatada no ano
passado, mas até agora a prefeitura não havia solucionado o
problema. No local, foi construído um poço tubular, mas a água do
sistema tem um gosto desagradável, apesar de ser potável. Com isso,
os administradores cavaram um segundo poço, em um local inadequado,
propício à contaminação.
Água
contaminada no distrito de Surpresa
Recentemente,
uma equipe da Funasa integrou uma força tarefa, juntamente com
representantes da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental
(Sedam), Corpo de Bombeiros, e Secretaria Municipal de Saúde, ao
distrito de Surpresa, em Guajará-Mirim. O pequeno vilarejo está
localizado em uma região próxima do encontro dos rios Guaporé e
Mamoré e tem uma população de aproximadamente 600 moradores. A
economia é baseada na pecuária e no extrativismo. O acesso é
fluvial e o distrito fica a 200 quilômetros de Guajará.
Em
Surpresa, a exemplo do que ocorreu em outras localidades, os técnicos
da Funasa fazem a coleta e a análise de mostras de água. De posse
do resultado, é reunida a população para dar ciência do problema
e também para levar as orientações necessárias. Para Lidgero, uma
das maiores dificuldades é a falta de informação da população.
"As pessoas ficam surpresas com a constatação de que a água
está contaminada", segundo o bioquímico. A maior parte das
amostras coletadas têm a presença de coliformes fecais, um forte
indicativo de que a água não é própria para o consumo".
Demanda
O
sistema de abastecimento de Surpresa foi feito há décadas, pela
Fundação Nacional de Saúde, que já não existe. Com o aumento da
população, também aumentou o consumo e o sistema ficou pequeno
para atender a demanda. No distrito, a água sai pura do poço
tubular, mas se contamina na rede de distribuição, que tem vários
pontos de vazamento.
As
condições de saúde no distrito de Surpresa são precárias. Uma
vez por mês a comunidade recebe atendimento de uma equipe do
Programa de Saúde da Família, com tratamento médico e
odontológico. O posto de saúde funciona em uma casa sem estrutura.
O distrito possui escolas do ensino fundamental e médio e energia
elétrica de uma pequena central hidrelétrica.
Texto: Ana Aranda (Diário da Amazônia)
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